quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Nier - Um jogo pode ser 50% bom?

Nier é um jogo muito inconsistente: nos seus êxitos, está acima da média, na outra metade desse espectro falha colossalmente.

Um jogo pode ser 50% bom?

Análise do jogo:

Nier

Nier clássico
Ficha técnica
Genêro: RPG de Ação
Desenvolvedora: Cavia Inc. / Square Enix
Plataforma: PS3
Data de lançamento: 2010
Nier acumula uma base de fãs, que embora seja pequena, fielmente perdoa as deficiências do jogo.

Aparentemente um jogo não pode ser 50% ruim:


Esse é o caso com o jogo de 2011, Dead Island. Não perdoaram a mecânica truncada desse jogo, que logo caiu no esquecimento.


Apesar dessa inconsistência, Nier é um dos meus jogos favoritos do PS3. 

Como assim? Vamos à análise!

Se temos as tragédias gregas, Nier (o jogo) é o mais próximo que temos de uma "tragédia japonesa jogável". O jogador assume o papel de Nier (o protagonista), e pode explorar o que parece ser um mundo de fantasia medieval em busca de uma cura para a doença que aflige sua filha.

Trivia: na versão japonesa, Nier é um adolescente e Yonah é sua irmã. Isso muito sobre a cultura japonesa e porque em jogos como Final Fantasy os protagonistas parecem com membros de boy bands.

Nier equipado para a batalha. 
Por trás da doença misteriosa, se desvelam complicações dignas de um filme do David Lynch, e Nier faz alianças, formando a party do jogo, etc, etc, etc.

Isso é uma simplificação grosseira da história, mas prefiro focar numa análise do jogo a fazer um resumo, coisa que qualquer wikia já fez. Mas vale destacar, como um argumento a favor do jogo, que sua narrativa é uma opera extravagante e, mesmo que a princípio nada faça muito sentido, é fácil se investir emocionalmente. O jogo tem quatro finais: A, B, C e D. Um final é progressivamente mais elucidativo e trágico que o anterior.

Nier enfrenta o principal antagonista, o "Lorde das Sombras" e seu exército infinito de   sombras antropomórficas (parecem com aquelas que enfrentamos em Ico) com a ajuda de Kainé e Emil.

A verdadeira alma do jogo são os  seus personagens, Nier e seus companheiros de jornada tiveram um investimento minucioso dos desenvolvedores para torná-los mais tridimensionais: Nier, por exemplo é um pai preocupado e fará qualquer coisa pela sua filha. O principal meio pelo qual transmitem a alma desse personagem é pela sua relação com a filha, mas ele estende esse carinho à Kainé e Emil, revelando um homem afetuoso por trás da carranca fechada de Nier. 


Por que Kainé veste lingerie para o tempo todo? Ora, por que sexo atrai dinheiro.

Kainé, por sua vez, é uma mulher agressiva e desbocada que veste lingerie e empunha dois cutelos para pulverizar as sombras. Ela tem uma vingança pessoal contra as sombras e seu passado tormentoso se revela no final B. Sempre gostei do desenho de personagem extravagante característico dos JRPGs, e a aparência de Kainé certamente se destaca. Mas a personagem realmente vem à vida com a ajuda de sua atora de voz que faz um dos melhores de trabalho que já ouvi em games.


Arte conceitual de Emil
Emil é o "irmãozinho" do grupo. Um menino amaldiçoado que vivia enclausurado numa mansão e também tem uma história triste. Sua maldição permite que ele ajude Nier na sua busca e ele com muito gosto abraça os objetivos de Nier para ver o mundo e para continuar perto dos seus novos amigos.


Arte conceitual de Yonah.

Disputando o título de filha perfeita com a Nanako de Persona 4, Yonah é a filha obediente.

Tesouro do papai. 

Yonah sofre de uma doença mortal de natureza misteriosa cujo sintoma visível é a aparição de runas entretorcidas pelos corpos de suas vítimas. Ela funciona como a força motriz para a narrativa, proporcionando unidade temática e investimento emocional na jornada como um todo: sempre temos em mente como nosso objetivo salvar a menina.

A gente conhece melhor a personagem conforme precisamos voltar para casa e pelas entradas de seu diário que aparecem nas telas de loading. 

Esse, por exemplo, é um dos toques de gênio em meio às inconsistências do jogo. Quero dizer, aproveitaram o momento mais enfadonho de qualquer jogo (as telas de loading) para dar mais personalidade à Yonah. 

Claro, em outros jogos aproveitam a tela de loading para tutoriais, trivia, etc. No entanto, nenhum o faz como esse jogo, que mostra telas com as entradas do diário pessoal de Yonah, no qual escreve com uma sinceridade infantil cativante.


Enfim, o jogo conta com um elenco excelente. Mas é aqui que a rasgação de seda acaba e começo a esculachar o jogo.

A jogabilidade, infelizmente, não é das melhores. Para matar os inimigos, basta apertar quadrado. Se God of War ou Devil May Cry fossem uma criança retardada ela se chamaria Nier.


Hack 'n slash assumidos tem mais customização que Nier, o jogo que supostamente deveria abraçar elementos de RPG. Os demais membros do grupo são invencíveis em batalha e quase não se percebe se tiram dano ou não. 

Gráfico e direção de arte são duas coisas diferentes. Ele falha horrivelmente no primeiro e no segundo quase consegue se salvar: a direção de arte tem seus momentos, como quando os raios de ofuscam a câmera ou quando exploramos os corredores misteriosos do Templo das Areias Correntes. Os personagens principais são bonitos e têm um visual interessante, mas os aldeões parecem intrusos vindos do Playstation 2.

Essa inconsistência se repete por todos os elementos do jogo numa antítese bizarra: mapa bonito, inimigos feios. Mapa feio, música bonita.

Essa sua indecisão também aparece quando Nier brinca com gêneros de video games: há uma dungeon que imita o típico RPG com camera aérea, outra revive as mansões misteriosas de Resident Evil e assim por diante. 

Nier tenta muitas coisas ao mesmo tempo. Isso pode ser um problema...

Resident Evil 6 também tentou ser vários jogos ao mesmo tempo. Mas esse não foi perdoado.

No caso de Nier, sua mistura de gêneros rendeu bons frutos, mesmo que por vezes um pouco murchos. Nier correu sério risco de ser um caso de predominância do estilo sobre o conteúdo, acusação da qual escapou por seu conteúdo: os personagens e a história.


História e personagens que ganharam vida graças a trilha sonora, que é sem sombra de dúvidas o melhor aspecto do jogo.

Há algumas tracks instrumentais, mas a maioria é cantada. E apesar da letras dessas músicas serem idiomas inventados, e ela que exterioriza o âmago desses personagens. É ela que mistifica os cenários meio urbano e meio medieval.

Destaque para as tracks Hill of Radiant Winds, Song of the Ancients Devola, The Wretched Automatons, The Ultimate Weapon e Temple of the Drifting Sands

Qual é o veredito final?

Aparentemente, um jogo pode ser 50% bom. Suas falhas são deixadas de lado pelos fãs de JRPG e esse nicho está muito feliz com o anúncio de uma sequência para o jogo!

Honestamente, Nier é meu jogo preferido de 2010, e vale muito a pena jogar. É muito fácil comprar ele usado hoje em dia, com o PS3 saindo do mercado.

Detalhe: essa sequência está sendo desenvolvida pela Platinum Games, famosa por fazer ótimos jogos de luta. O que quer dizer que a principal fraqueza de Nier será um de seus pontos fortes.

Nota: 

Há fãs do jogo perdidos por aqui? Deixe um oi nos comentários!

Até a próxima!!!


Nenhum comentário :

Postar um comentário

Faça um blogueiro feliz deixando seu comentário!

Caso tenha um blog, deixe o link para que eu retribua a visita!