sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Clock Tower aplica uma fórmula de filmes de terror para criar um dos grandes jogos do Super Nintendo

Porque temos uma atração pelo terror?

Sob a tag O fascínio do medo, procuro explorar os porquês dessa atração.

O assunto de hoje é:

Clock Tower

Clock Tower é um dos primeiros jogos de terror japonês e o único do gênero no Super Nintendo.

Embora seja um jogo estranho e inacabado, ao mesmo tempo é inovador e original: não dá pra acreditar que um jogo como esse existiu para o SNES!

Mas o que esse jogo tem de tão especial?

Bom, vamos à história.
Você controla uma garota orfã de 14 anos, chamada Jennifer. Na abertura do jogo vemos que a protagonista e outras duas meninas foram adotadas e estão se mudando para seu novo lar: uma mansão isolada. E sim, como bem sabemos, mansões em video games nunca são uma notícia boa. Para fechar com chave de merda, Senhora Mary, a nova guardiã das meninas é fria e impaciente. 
Enfim, tudo contribui para estabelecer um cenário agourento de ameaça iminente, típico dos primeiros minutos de qualquer filme de terror.

Jennifer se afasta de suas colegas por um minuto e as luzes se apagam. Ela volta à sala onde estavam e suas amigas não estão mais lá.

Seguidamente, Clock Tower empurra o jogador para uma mansão cheia de perigos, um verdadeiro inferno em 16 bits. O jogo permite que você se movimente verticalmente entre os corredores e que você se defenda dos inúmeros perigos apertando o "botão do pânico" (B). Perigos esses que não demoram a cair sobre o jogador: Jennifer é atacada por um anão segurando uma tesoura gigante nos primeiros minutos do jogo.



Quando essa desgraça nos ataca, a única coisa que podemos fazer é correr desesperadamente e se esconder dele em baixo de camas, dentro de banheiros ou qualquer outro esconderijo que encontrar, senão é game over.

Até aí tudo bem.
O problema é que o jogo não dá um tutorial para explicando o botão do pânico (em jogos atuais, teríamos um QTE, com um prompt para esmagarmos "quadrado")

Imagino que Clock Tower seria um jogo muito frustrante para gamers atuais.

Jennifer não tem uma escopeta nem um revólver.

A única coisa que ela pode fazer além de se esconder é apertar "o botão do pânico", para assim tentar sobreviver a essa noite maldita.

O jogador encurralado apertando o botão do pânico.

Conforme exploramos a mansão, interagimos com o cenário no estilo point and click, encontrando itens para sobreviver, chaves para abrir outras salas para avançar no jogo e,  é em pequenos detalhes desses cenários que um pouco da história se desvela, revelando um pouco a sorte do terror que nos cerca. Aliás, nunca aprendi a natureza da criatura quer matar a protagonista. Parece ser um anão, ou uma criança deformada vestindo roupinhas de marinheiro, empunhando uma tesoura de jardim.
 

Mas o não saber é metade do que faz um grande filme de terror.
 

Infelizmente, a navegação é meio confusa. É muito fácil se perder e você não tem mapa algum nos menus. Pode parecer proposital que o jogador tenha poucos recursos, aumentando assim, a atmosfera de insegurança. Mas é uma falha em design de mapa, quando as portas trancadas e corredores são absolutamente iguais e Jennifer anda tão devagar. Para compensar a duração curta do jogo e a exploração que pode se tornar uma tarefa enfadonha, os encontros com o cara da tesoura e pequenos acontecimentos nas salas são aleatórios, contribuindo com a imprevisibilidade do jogo.

Contando com nove finais, Clock Tower é um Heavy Rain a frente de seu tempo, e o fato de ser um jogo curto favorece sucessivas gameplays. Explorando a mansão, encontramos quartos infantis, salões com parafernália de cultos estranhos e depósitos misteriosos. Nessas salas, o anão pode surgir depois do jogador interagir com algum item. Isso causa uma ansiedade constante.

Adicionalmente, o desenrolar do jogo é determinado pela sorte (ou azar) e por pequenas ações do jogador. O clímax, por exemplo, pode ou não, acontecer na torre do relógio, que dá nome ao jogo. 
Essa variação da probabilidade das coisas acontecerem durante o jogo e os vários finais tornam Clock Tower um sucesso, senão do ponto de vista técnico, ao menos dentro de seu gênero: a incógnita de uma ameaça misteriosa e um desenrolar imprevisível, contribui para uma atmosfera de impotência e desamparo.

Na verdade, Clock Tower é melhor que a maioria dos jogos de terror atuais.

E melhor que muitos filmes também!

Percebemos a inspiração nos filmes de terror na forma como ele brinca com as convenções do gênero.


Num dos finais, o jogo se vale de um dos clichês mais clássico dos filmes de terror: Jennifer encontra um carro, e parece que tudo vai dar certo, mas ela esqueceu de checar banco de trás!

Em outra sala, uma caixa se mexe sozinha, e há construção de uma tensão insuportável... mas era só um gato!

Sempre cheque o banco de trás!

Aliás, você sabia que grande parte do que faz um filme de terror funcionar é o som?

Clock Tower certamente sabe, pois o jogo abusa bastante potencial para sons do SNES.

É possível notar os sons dos passos da garota, ou até mesmo o barulho das portas abrindo e fechando, além, é claro da música que toca quando a protagonista é atacada, típica de filmes de terror.


Não bastasse a improbabilidade de um jogo como esse existir no SNES, Clock Tower é inspirado nos filmes do cineasta italiano Dario Argento!

Há semelhanças físicas entre as protagonistas de Clock Tower e de do filme Phenomena, assim como muitos elementos emprestados de Suspiria, filme consagrado como um clássico cult, influenciando filmes do gênero terror desde seu lançamento.

Dario Argento é o pai do terror moderno, e seu filho mais singular é Clock Tower, o jogo impossível do SNES, que traz um pouco do mundo do terror e do suspense dos anos 80 para o console da Nintendo.
 
Nota:

Por amor ao jogo, disponibilizo o download da rom (em português!) de Clock Tower:

Download disponível aqui.

Obrigado por ler.

See you around!

3 comentários :

  1. Leia também: artigo do blogue sobre o filme que inspirou o jogo
    http://oescritornerd.blogspot.com/2016/08/suspiria.html

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  2. nao sabia que tinha um clock tower pro snes tambem parece muinto bom

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  3. Jogo maravilhoso sem dúvida, ele e o 3 dividem meu coração. Gostaria de acrescentar porém que Jennifer é adotada mais 3 meninas na verdade e que o Tesourinha é de fato uma criança demoníaca deformada mesmo, e que as questões vão sendo respondidas no decorrer do game e muitas só pra interpretação mesmo. Agora inacabado? Você fala isso porque dois finais do game são frutos de bugs? E muito boa análise, muito divertida.

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