Stephen King fala em Joyland sobre a passagem para a vida adulta, sobre maturidade e sobre os anseios de um jovem chamado Devin Jones.
Mas não é o que parece pela capa, que é muito atrativa: a menina segurando a câmera, boca em alarme, viu algo terrível...
É algo terrível o que o grande público espera de King, que é conhecido por suas narrativas macabras e sombrias – Joyland, no entanto, fala mais sobre juventude, amor não correspondido e nostalgia do que sobre fantasmas e assassinatos.
Análise do livro:
JOYLAND
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FICHA TÉCNICA: Ano: 2015 / Páginas: 240 Idioma: português Editora: Suma de Letras |
Stephen King, autor com longa carreira, ao contrário do que muitos pensam, não faz só literatura com temas de morte. Nesse caso, o que Joyland representa na vasta bibliografia de Stephen King?
Depois de ler sua autobiografia, On Writting, publicada no Brasil com um título quilométrico (Stephen King - a Biografia: Coração Assombrado), eu leio Stephen King com outra perspectiva. Como King revela em tal biografia, seus maiores sucessos são os seus trabalhos mais sinceros: aqueles que tiveram como fonte suas próprias vivências. É assim que funciona para a maioria dos autores. Afinal, é muito mais fácil escrever sobre o que nos é familiar, não é?
Claro que King não chegou onde está escrevendo um diário pessoal: ele é capaz de florear seu texto com todas as ferramentas que tem disponível, criando um texto que funciona como ficção.
Ao escrever um protagonista masculino, como o fez em Joyland, King sobre o que lhe é familiar, e logra um diálogo muito íntimo com o leitor.
Ele já conta 70 anos de vida, e foi um jovem dos anos 50 e 60, então não é conhecidência que os cenários mais comuns em seus livros sejam cidadezinhas do interior norte-americano dos anos 60 e 70.
E Joyland não foge dessa regra.
A história se passa na Carolina do Norte, em 1973, e acompanha o verão de um jovem chamado Devin Jonesy, um universitário que busca um emprego temporário num parque de diversões.
No futuro, o protagonista, na casa dos sessenta (idade atual do autor) narra sua juventude com a sabedoria e o cinismo que vem com a idade.
Seja para inspirar terror ou para comover, King está em sua melhor forma quando põe no papel pequenas coisas do cotidiano, detalhes esses que conferem uma profundidade e uma sinceridade às suas histórias.
Quando escreve sobre o que sabe, sobre o que lhe é familiar, suas histórias, por extensão, se tornam familiares também para seu leitor. Por mais que aqui, a sua história de fantasma seja simples e completamente clichê, são os detalhes e familiaridade que King faz tão bem que elevam o livro.
A familiaridade é a alma desse livro.
Seja para inspirar terror ou para comover, King está em sua melhor forma quando põe no papel pequenas coisas do cotidiano, detalhes esses que conferem uma profundidade e uma sinceridade às suas histórias.
Quando escreve sobre o que sabe, sobre o que lhe é familiar, suas histórias, por extensão, se tornam familiares também para seu leitor. Por mais que aqui, a sua história de fantasma seja simples e completamente clichê, são os detalhes e familiaridade que King faz tão bem que elevam o livro.
A familiaridade é a alma desse livro.
Agora que estabeleci a primeira questão da análise - a familiaridade do leitor com os temas apresentados no livro e a segurança do autor ao transmiti-los, eu preciso falar da segunda questão: porque Joyland é mal compreendido?
Bom, no Brasil, King não é um autor exclusivamente restrito a um culto de seguidores, tendo um público mainstream acostumado a ver nas livrarias os trabalhos do autor. Um dos mais famosos é a A Coisa (It). Mas caso você não tenha lido nenhum King, certamente assistiu a adaptações para o cinema, de obras como Carrie ou O Iluminado (The Shining).
A “marca” Stephen King, então, é conhecida pelos filmes de terror, mas os leitores que exploram mais a fundo sua bibliografia sabem que ele é um bom autor mesmo quando não escreve sobre demônios que assumem a forma de um palhaço ou sobre assassinos cruéis. Esses leitores sabem que o autor também é capaz de narrativas mais sérias, do tipo que poderiam ser estudadas por universitários como Devin Jones.
Você ao menos já ouviu falar de duas delas: Um Sonho de Liberdade (Shawshank Redemption), À Espera de um Milagre (The Green Mile), que proporcionaram dois dos maiores filmes da história do cinema.
Joyland é uma mistura desses dois principais talentos de Stephen King: terror e drama de personagem.
O fato de Dev considerar sua passagem pelo parque a melhor época de sua vida, mesmo tendo que lidar com fantasmas, um serial killer... ele quase morreu e essa foi a melhor época de sua vida!
É por isso que o livro é mal-compreendido: leitores novatos não entendem o livro que não decide a qual gênero literário pertence. O livro é sobre Dev ou sobre fantasmas e assassinatos? Porque um autor tão conhecido se vale de tantos clichês?
Joyland é cheio de clichês, mas sua sinceridade permite faze-lo. Stranger Things, seriado original da Netflix largamente influenciado pelas obras de Stephen King, faz uma viagem nostálgica parecida. Stranger Things e Joyland conseguem fazer bons uso dos clichês justamente porque o clichê tem muito a ver com o saudosismo e com o é familiar.
King sabe o que esperamos dele: cabeças decapitadas e monstros bizarros...
Mas o autor, ao criar Devin Jones, o autor não tinha como objetivo contar uma história de fantasmas ou de assassinatos.
O objetivo de Joyland é contar a história desse personagem numa época de magia, numa época em que ele vendia felicidade. Numa época em que ele aprendeu uma língua nova (exclusivo de quem trabalha no ramo da diversão!).
Numa época em que ele aprendeu sobre a fragilidade da vida com um menino muito especial.
Todos nós tivemos nosso Tom, nossa Erin, nossa Annie...
Todos nós tivemos nosso Tom, nossa Erin, nossa Annie...
Todos nós tivemos a nossa "Joyland" em nossa transição para a fase adulta.
Qual foi a sua?
Nota:




Por hoje é só, pessoal!
Arrivederci!
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