O Cavaleiro da Morte
Ficha Técnica:
Título original: The Pale horseman
Segundo volume d'As Crônicas Saxônicas
Ano: 2007 / Páginas: 392
Idioma: português
Editora: Record
Cornwell é um excelente escritor, mas depois de ler quase toda a sua bibliografia, acabo percebendo seu calcanhar de Aquiles: as formas prontas. Sempre temos um herói, uma feiticeira traidora, um grande líder, um padre maquiavélico...
O Cavaleiro da Morte, infelizmente é um livro muito formulaico. Mas isso prejudica a leitura? Será Uhtred apenas mais um Sharpe?
O Cavaleiro da Morte, infelizmente é um livro muito formulaico. Mas isso prejudica a leitura? Será Uhtred apenas mais um Sharpe?
Vamos à análise!
O Cavaleiro da morte é faz parte das crônicas saxônicas, que já está em seu décimo livro.
Na Primeira parte do livro, "Viking", o autor tira do caminho sua costumaz recapitulação, o que é ótimo para refrescar a memória de quem leu o livro anterior a algum tempo, mas para mim que leu um seguido do outro, acaba ficando repetitivo.
"Hoje em dia olho os garotos de 20 anos e acho que são pateticamente jovens, mal saídos das tetas das mães, mas quando tinha vinte anos eu me considerava adulto. [...] Motivo pelo qual, depois da nossa vitória em Cynuit, fiz a coisa errada."
Depois de derrotar Ubba Lothbrokson, o mais temido líder dinamarquês e enviá-lo ao einherjar, Uhtred foi de encontro a sua família ao invés de colher as recompensas de sua sorte. Naturalmente, outro saxão aproveitou a oportunidade e roubou o crédito. Uhtred foi tomar satisfação e só arrumou outro problema, dessa vez, com os seus superiores.
"E não me senti mais entediado, porque seríamos vikings."
Resolvido esse problema, Uhtred vai para o mar como um viking e conhece Nimue Iseult, uma rainha das sombras, e Asser, um padre filho da puta. Se você leu As Crônicas de Artur ou As Aventuras de Sharpe, reconhece um padrão até aqui:
O protagonista é um anti-herói, mas é valioso para o seu superior, uma grande figura militar. O (anti) herói sofre uma injustiça infligida pelo tal superior, e por isso então faz seu próprio caminho até voltar ao exército inglês, para a grande batalha do final do livro. No caminho, ele conhece mulheres com personalidade forte, e tem embates com um padre antagonista ou uma rivalidade com outro guerreiro.
Se Derfel e Sharpe tivessem um filho (ai que delícia, cara), seria Uhtred. Mas será que isso é realmente uma notícia ruim?
Na Segunda Parte, "O rei do pântano", os personagens ganham mais vida. Depois de sofrer um ataque terrível, o Rei Alfredo precisa reconstruir suas forças, e conta com a ajuda de Uhtred para fazê-lo. A calmaria depois da tempestade, é a oportunidade perfeita para que Alfredo e sua família ganhem mais profundidade e personalidade. A entourage de Uhtred também se beneficia desse interlúdio: constituída por Leofric, Iseult, Eanfled, Hild, Steapa e por Pyrlig.
Esse arco tem um ótimo desfecho. A cura do bebê e suas consequências, fecha o nó de uma subtrama com uma ironia trágica.
A figura de Alfredo, por enquanto, não tem nada de "Grande", principalmente por acompanharmos a história na perspectiva de Uhtred, que o odeia. No entanto, Alfredo se redime um pouco ao vermos os momentos íntimos da família real. Um momento legal foi a camponesa ignorante, batendo em seu rei por ele ter deixado queimar os bolinhos. E segundo Cornwell, essa é uma das narrativas folclóricas mais famosas ligadas a Alfredo.
Na Terceira parte, "O fyrd", dinamarqueses e britânicos digladiam pela supremacia em Ethandun. E Cornweel nunca decepciona em suas cenas de batalha.
Recriei a batalha de Ethandun em Age of Empires II. Clique para ampliar.
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Os britânicos, como sempre, estão em desvantagem numérica. Além disso, eles precisam avançar contra uma fortaleza e enfrentar terreno ruim. A batalha de Ethandun é partircularmente sangrenta, e eu não sei como o autor consegue resgatar todos os pormenores de uma batalha de aço contra aço. Está tudo lá: o autor sabe o quê acontece com o corpo humano quando é atingido por flechas, espadas, escudos, machados...
A parede de escudos se choca com o skjladborg e parece que estamos no meio de tudo!
A parede de escudos se choca com o skjladborg e parece que estamos no meio de tudo!
"Eu podia sentir o cheiro de sangue e merda. Esses são os cheiros da batalha."
A narrativa do Cavaleiro da Morte serve como uma ponte para o próximo livro. E Cornwell sabe disso. Por isso, ele tentar nos dar encerramento para a história desse segundo volume, ao matar dois personagens importantes, amigos de Uhtred.
E são mortes horríveis, que apesar de os personagens terem sido criados para serem ceifados e dar mais peso à trama, eu senti terrivelmente a perda de um dos personagens.
Parece, afinal de contas, que a "fórmula" funciona, e O Cavaleiro não deixa de ser uma boa leitura. Mesmo que eu já conheça a fórmula de cor e salteado.
NOTA FINAL: 10
Recomendadíssimo.
O livro está disponível em qualquer biblioteca, ou livraria!
O livro está disponível em qualquer biblioteca, ou livraria!
Cheers!