quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Estudo de personagem: Sansa Stark

Os mitos são as pedras que fundamentam a construção de narrativas contemporâneas: tudo que acontece nos mitos, muitas vezes se repete até mesmo de forma inconsciente. 

O autor de as Crônicas de Fogo e Gelo, valendo-se do escopo épico do livro, brinca com os mitos. Por exemplo: com os gigantes de gelo que anunciam o fim do mundo em gelo e morte, G. R. R. Martin parece pegar emprestado bastante coisa da mitologia nórdica. No caso de Sansa Stark, uma das jogadoras mais subestimada na Guerra dos Tronos, o autor pega emprestado do mito de Perséfone. Os tropos do mito de Perséfone predominam nas desaventuras de Sansa!
Para quem não conhece: 


O  mito de Perséfone, conta a história de Koré (mais conhecida como Perséfone), e começa quando a menina floresce tornando-se uma jovem que encanta a todos os deuses com sua beleza. Um desses deuses foi Hades, que ardilosamente (em conspiração com Zeus) sequestra Perséfone e a leva ao submundo. Demetér, sua mãe, fica absolutamente furiosa e não poupa esforços para recuperar sua filha causando destruição por onde passava. Desse ponto em diante, as versões do mito diferem. Em algumas versões, Koré assume a alcunha de Perséfone, rainha do submundo. Em outras versões, é um mito de estupro, e Perséfone vive infeliz em companhia do rei do inferno e volta à superfície uma vez por ano durante seis meses, sendo obrigada a voltar por ter provado o fruto de romã, que a prende no inferno. Surge daí a explicação para o ciclo das estações: quando Demetér e Perséfone estão juntas, a terra recebe um verão generoso. Quando ela desce ao submundo, a tristeza de Demetér causa o inverno sob toda a terra.

Vejamos então alguns dos paralelos entre Sansa e Perséfone.

No mito de Perséfone, acontecem algumas coisas que se repetem em narrativas modernas e em nossas vidas (mesmo que de forma inconsciente, o autor pode escrever sobre esses tropos):

O tropo mais clichê: "A história de crescimento"
As histórias de crescimento estão em alta hoje em dia, com Harry Potter, Percy Jackson, Katniss Everdeen, Frodo Bolseiro, dentre outros. Acompanhamos esses heróis durante o seu crescimento até chegarem à fase adulta ou à superação de algum problema.

No caso da presente estudo de personagem, acompanhamos o crescimento de uma menina (Koré), para mulher (Perséfone), ou no caso de Fogo e Gelo, temos a Sansa, que no começo das crônicas é uma jovem ingênua.

O tropo da "Mãe sábia"
No mito de Perséfone, além da representação da menina (com Koré) e da mulher (com Perséfone), temos também a representação da mulher mais velha, com  Demetér. Nos livros de G. R. R. Martin, temos Catelyn, que se encaixa em muitos aspectos do tropo da "mãe sábia", que aconselha, protege a filha, etc.
Koré e sua mãe sábia.

O tropo do "Fruto Proibido"

Esse tropo vem da bíblia, se repete no mito de Perséfone e aparece bastante em narrativas modernas.

"A volta dos mortos"

No caso do livro, quem volta dos mortos é a Senhora Coração de Pedra, mas Sansa também sofre uma morte simbólica.

E os paralelos não param por aí! Há mais paralelos quando comparamos a história das da jovem Stark e da deusa da mitologia grega:

Demetér causa destruição na terra para recuperar sua filha. Catelyn Tully da mesma forma, começa uma guerra.

Hades é o deus do submundo e do ouro. Há paralelos entre Hades e Lorde Baelish, que é o tesoureiro do rei e conspirou para trazer Sansa a Porto Real.

Sansa vem de Winterfell, onde vivia feliz com sua mãe. (Inverno)

No entanto, ela sonhava com os príncipes e os heróis das canções... até que Lorde Baelish conspira para leva-la a Porto Real (Verão).

Para se adequar ela abandonou sua herança cultural para abraçar os costumes da corte. Mas no verão, encontrou seu inferno.

E assim como na mitologia grega, em Fogo e Gelo os deuses  também são cruéis. No caso, os deuses são a nobreza de Porto Real, que atormenta Sansa ou são testemunhas coniventes do sofrimento da jovem Stark.

Assim como Koré no mito, Sansa está fadadas ao casamento indesejável (Joffrey, Tyrion e finalmente, Lorde Baelish).

No mito acompanhamos a morte simbólica de Koré. No caso do livro, a morte simbólica de Sansa acontece conforme ela perde sua identidade: esse processo começa no primeiro livro, quando ela é a única irmã a perder sua loba-selvagem, destacando-as dos seus irmãos, perdendo assim, sua identidade nortenha. Em seguida, passou a viver no verão quente, na corte de Porto Real, assim como tanto sonhava. Como bem sabemos, as coisas não deram certo para ela e foi forçada a abandonar mais ainda suas raízes nortenhas. No final dessa jornada, Sansa Stark abandona completamente sua identidade e vira Alayne Stone, e volta ao inverno, no Ninho da Águia.

O autor chega a brincar com o mito quando Lorde Baelish chega a oferecer um fruto de romã para Sansa, mas ela nega e escolhe uma pera. Ela fez uma escolha. O que isso significa para o futuro de Sansa? 

Enquanto o inverno é a prisão de Perséfone e o verão/primavera sua liberdade; Para Sansa parece ser o contrário. 

Sabendo disso, o que podemos esperar para Sansa em Os Ventos do Inverno? 

Acho que podemos nos manter otimistas quanto ao destino de Sansa. O inverno representa para ela, a retomada de sua agência. Ela está de volta ao inverno e abraçou sua relação com "Hades". Mas diferente de Perséfone, Sansa é muito mais perigosa para o Mindinho. Esqueçam o que aconteceu na série, pois a Sansa do livro voltará com tudo. É a hora dos lobos e do inverno. 

O inverno está chegando.

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