sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A culpa é da vítima?

Em 2014, o IPEA causou polêmica com uma pesquisa sobre estupro: 65% dos brasileiros concordam que mulheres com corpo à mostra merecem ser atacadas.

Isso causou um furor sem tamanho nas redes sociais.

Somente após muita repercussão na mídia, o instituto reconheceu que houve um erro na divulgação desse resultado: com uma interpretação diferente, apenas 26% acham que mulheres com pouca roupa merecem ser atacadas.


Mas isso significa que a polêmica que estourou nas redes sociais foi à toa?

Bom, mesmo depois da retificação, o IPEA ainda defende que as conclusões gerais do estudo permanecem válidas, pois ao analisarmos as outras perguntas, vemos sintomas do problema inicial:

Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros, 13,1% discordaram totalmente e 58,4% concordaram totalmente.

Diante da sentença Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, 11,1% discordaram totalmente e 58% concordaram totalmente.

Esses resultados são tão problemáticas quanto a pergunta que causou a polêmica nas redes sociais...

Ok, talvez a afirmação Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, não seja tão problemática por ser uma espécie de ditado popular enraizado no consciente coletivo, tem conotação de humor e não é associado pelos entrevistados à violência contra a mulher.

Isso evidencia uma pesquisa mal elaborada e os resultados podem ser considerados tendenciosos, mas se analisarmos essas questões dentro de nosso contexto cultural, essas questões revela uma imagem distorcida da violência contra mulher na sociedade brasileira, fato comprovado pela imaturidade com que as redes sociais administraram o assunto.

No entanto, além dessas duas questões entre 41 encontradas na pesquisa, uma delas chama atenção pelo seu resultado que é tão preocupante quanto os resultados equivocados da questão que iniciou a polêmica: 58,5% dos entrevistados concordam que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros.

Isso quer dizer que a polêmica não foi tão sem propósito, mesmo após terem acusado as inconsistências da pesquisa. Alguns respiraram aliviados: no fim das contas não somos tão machistas assim, né?

É 2016, e esse debate continua relevante. Temos casos grotescos de estupros coletivos e violência contra a mulher o tempo todo. Feminismo se tornou uma palavra feia, e tentam deslegitimizar a luta feminista o tempo  todo.

A pesquisa que causou tanta confusão em 2014 foi esquecida, mas foi uma das primeiras que levantou o debate nessas proporções, revelando uma cultura machista que reagiu à pesquisa debatendo o nível de culpa da vítima de violência ao invés de olhar para os verdadeiros culpados: os agressores.

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